top of page

Desejo de contribuir

 

          Esta é uma mensagem de tantas e outras que pretendemos postar com o objetivo de tirar algumas duvidas das pessoas que tem vontade de conhecer a bebida conhecida popularmente como Daime, muito embora existam outros nomes, mas que todos têm as mesmas ou (quase as mesmas composições) que na verdade no meu modo de pensar, para ser chamado de daime, os elementos tem que ser comum, ou seja: Cipó e Folha específicas, Agua e fogo.

 

          No CENTRO ESPÍRITA DANIEL PEREIRA DE MATOS

“BARQUINHO SANTA CRUZ", o qual sou o responsável, nós acrescentamos alguns adjetivos, que são: " Amor, seriedade e muita responsabilidade".                        

 

Obs. Não quero dizer com isto que somos os únicos a trabalhar desta forma, estou apenas expondo o nosso formato de trabalho.

 

Mas para falar sobre o daime acho que é importante me apresentar.

 

          Sou o missionário Antônio Geraldo da Silva Filho, líder do Centro Espírita Daniel Pereira de matos, sou filho de Antônia Ferreira da Silva e do Mestre e Conselheiro Antônio Geraldo da Silva, sucessor de Daniel P. de Matos fundador da missão atualmente conhecida como nacionalmente e até mesmo internacionalmente por BARQUINHA.

 

          Nascido em 14 de agosto de 1956, Comecei a beber daime a partir dos oito anos de idade, sempre estive ao lado de meu pai ajudando e aprendendo a lhe dar com algo tão importante para a minha vida, e as vidas das pessoas, aquelas que acreditam e respeitam e ate mesmo aquelas que não acreditam, pois, a luz de Deus é para todos.

 

          Hoje estou com 62 anos de idade sou líder da comunidade desde 2000 ano em que meu querido pai se libertou de seu corpo material, e se foi para o plano superior a onde habita os espíritos iluminados e purificados. 

Ayahuasca e Seu Uso Religioso

Contexto Histórico:

         

            A Ayahuasca era utilizada pelos INCAS ou melhor pelo complexo histórico Cultural assim denominado, segundo Darci Ribeiro, apesar das diferenciações linguísticas e das variantes culturas nacionais, o bloco inteiro deve ser encarado como uma só macro etnia. Numa avaliação que foi em 1960, publicado no livro a américa e a civilização, encontrou-se uma população de 15,5 milhões de habitantes, na área montanhosa de 3000 km de extensão que vai do norte do chile ao sul da colômbia, cobrindo os atuais territórios da Bolívia, peru e equador. Destes, 7,5 milhões são considerados indígenas, 3 milhões, brancos por auto definição e 5 milhões de mestiços.

            A ayahuasca é utilizada tradicionalmente em países como peru, equador, colômbia, Bolívia e Brasil e ainda pelo menos 72 diferentes tribos indígenas da Amazônia. Seu uso se expandia pela américa do Sul e outras partes do mundo com o crescimento de movimentos religiosos organizados, sendo os mais significativos a união do vegetal, o santo daime e a barquinha. Além de dissidências destes grupos existem (centros, núcleos ou igrejas) independentes que o consagram em seus rituais.

            Nos tempos imemoriais em que o império Inca erguia suas majestosas cidades na cordilheira dos andes e seus sacerdotes guardavam tesouro de antiga sabedoria e avançada ciência. Vem deles um conhecimento que se espalhou entre os pajés de diversos povos da Amazônia: o uso da ayahuasca, uma bebida sagrada feita com um cipó e uma folha da floresta. O nome é de origem quéchua e significa “união dos espíritos”, pois proporciona visões do mundo onde se encontram os ancestrais e as divindades, mas cada povo encontrou outras denominações de acordo com sua língua e cultura.

            Os colonizadores espanhóis e português, destruíram o império inca e dizimaram muitas nações indígenas, mas também se mestiçaram para formar outros povos e países no novo mundo. E ayahuasca chegou aos vilarejos da Bolívia, do peru, da colômbia, da Venezuela e do equador pelas mãos dos curandeiros que socorriam aos pobres com suas ervas medicinais, dietas, rezas, rituais.

            No Brasil, entretanto, a ayahuasca resultou num fenômeno diferente, que reuni grande quantidade de pessoas em rituais que não são exclusivamente dedicadas à cura de doenças, mas também as celebrações de grandes festas religiosas. No final do século XIX quando se iniciam os conflitos entre Brasil, Peru e Bolívia pela posse do território Acreano, os Seringueiros já começaram a aprender com os índios o uso da ayahuasca. Passado o período da Guerra, as colonizações se intensifica, para extração da borracha, e com ela o contato nem sempre amistoso, entre brasileiros e índios. Os brasileiros vinham de vários estados do Nordeste, especialmente do Ceará. Mas foram os poucos maranhenses que descobriram a ayahuasca e a disseminaram o seu uso fora das aldeias indígenas. Tudo começou com os irmãos Antônio e André costa, em Brasiléia. Eles fundaram a primeira organização religiosa no acre, o círculo de regeneração e fé. Em suas reuniões usavam a ayahuasca, que aprenderam a fazer com os índios, como meio de aprendizado espiritual. Começaram a surgir os elementos de uma religiosidade amazônica em que os símbolos do cristianismo convivem com os conhecimentos indígenas, reinterpretados pela linguagem simples do povo. Em 1912 chega no acre um homem que iria dá o passo decisivo na formação dessa religiosidade amazônica com base no uso ayahuasca. Vinha também do maranhão ainda muito jovem, tinha menos de vinte anos de idade e se chamava Raimundo Irineu serra. Desembarcava em Xapuri, onde passou dois anos trabalhando nos seringais. Em 1914 subiu o rio para Brasiléia, onde se encontrou com os irmãos costa e passou a fazer parte do CRF.

            Raimundo Irineu serra, como é chamado pelos seus seguidores do culto, era Negro e Neto de escravos, nascido na cidade de são Vicente em 15 de dezembro de 1892, filho de Martinho Serra e joana assunção serra, primogênito de uma família de cinco irmãos.

            Foi para o Acre afim de trabalhar na demarcação de fronteiras, também atuou em seringais da região e na guarda nacional, na Amazônia conheceu a ayahuasca em solo peruano, das mãos de um caboclo chamado dom pisando. Raimundo Irineu foi fundador do “CICLU” Centro de Iluminação Cristã luz universal, ainda vivo viu surgir outros trabalhos religiosos que fazem uso da ayahuasca como a Barquinha, fundada por Daniel pereira de matos. Após sua morte, em 6 de julho de 1971, aconteceram dissidências no “CICLU” e várias igrejas se formaram a partir daí.

         

Corpo Doutrinário da Barquinha

            O culto eclético da barquinha é um trabalho espiritual, que tem como objetivo alcançar o autoconhecimento e a experiência de Deus ou do EU superior interno.

            Por tanto, se utiliza dentro de um contexto ritual tido como sagrado, a bebida eteogenia (Sacramental) conhecida como ayahuasca e que foi batizado como santo Daime.

            O Uso de uma substância eteogenia como sacramento parece ter feito parte das principais tradições de vários povos antigos. A bebida é denominada eclética porque suas raízes estão impregnadas de um forte sincretismo, entre vários elementos culturais, folclóricos e religiosos.

            A doutrina do Santo daime, nasceu de uma floresta brotou no seio do seu povo, uma gente muito humilde e digna. A sua mensagem, que se encontra reunida na forma de coleções de hinos recebidos pelos mestres e adeptos, propagam o amor pela natureza e consagra o mundo vegetal e todo o planeta como sendo um cenário sagrado, nosso trabalho mantém por tanto um vínculo muito profundo com a floresta e pela causa de sua preservação.

            No Ritual da Barquinha percebemos a confluência de várias religiões, desde a católica a influência de religiões Afro Brasileiras. Analisamos essa tradição cultural como parte de um conhecimento de um povo que herdou uma visão de um mundo peculiar e que denominamos aqui: como uma cultura oriunda de populações indígenas e caboclos da Amazônia.

            A Barquinha destaca-se pelos seus rituais e entidades sagradas que atuam como curadores de males físicos e psíquicos. Temos como objetivo de estudo uma cultura ayahuasqueira baseada em um sistema de crenças e rituais, danças e músicas. E que embora essas danças ritualizadas estejam revestidos de elementos novos, são também de natureza sincrética.

            O Centro Espírita Daniel Pereira de Mattos liderado atualmente pelo Sr. Antônio Geraldo da Silva Filho define-se como Centro Espírita, os trabalhos são variados e se dividem em diversos rituais e Finalidades.

            Os Principais trabalhos seguem um calendário religioso e os rituais são de diversos tipos: As romarias, o bailado, trabalho de instrução e preparação e trabalhos de obras de caridades. Os bailados são realizados ao termino de uma romaria ou em outras comemorações como aniversários e dias santificados. Essas festas são ritos religiosos realizados como um esforço de celebração sucessivas através de danças e preces para manter vivo os ensinos do mestre.

            As igrejas daimistas pertencentes as linhas da Barquinha costumam abrir e encerrar os seus cultos semanais, denominados cultos santos, com um saltério criado por Daniel P. de Mattos, fundador da missão.

            Além dos salmos de abertura e encerramentos do culto, encontra-se salmos de romarias que compõe a parte interna do culto santo. Tais salmos variam conforme a época do ano, que seja dedicado a alguma data festiva da igreja. Os santos festejados possuem seus próprios salmos e neles são louvados durante as romarias, a exemplo das romarias da semana santa, do mês mariano e das romarias de são Sebastião. A barquinha possui uma agenda muito intensa e variada em seus trabalhos. As sessões semanais acontecem nas sextas e sábados; nela cantam-se salmos e se enfatizam respectivamente a cura dos corpos e harmonia da alma. 

AS SUBSTÂNCIAS QUE CONTEM NA AYAHUASCA.

(segundo estudos científicos)

            A DMT (Dimetiltriptamina) é uma substância contida na Ayahuasca, também é produzida pelo corpo humano, em quantidades bem pequena, e alguns estudos científicos ainda não totalmente comprovados apontam no sentido de estar ligada ás visões coloridas que temos nos sonhos quando dormimos. Algumas pessoas desenvolvidas mediunicamente também já foram estudadas na sua bioquímica por cientistas, onde ouve constatação de que há, nestas pessoas, uma quantidade maior de DMT do que em indivíduos que não passaram pelo processo de desenvolvimento destas faculdades espirituais.

            Por outro Lado, quimicamente, a molécula da DMT é virtualmente idêntica a molécula da serotonina, com algumas pequenas diferenças. Isto significa que ela encaixa perfeitamente nos mesmos neurônios que utilizam a serotonina como meio de transmitir estímulos nervosos a outros neurônios, assim um indivíduo sob o efeito de um aumento considerável na quantidade de DMT no cérebro, terá uma abertura de sua visão espiritual, ou do que os orientais chamavam de terceiro olho. Em outras palavras, a DMT é uma janela para o mundo espiritual.

E como esta molécula, ativa neurônios no cérebro, em grandes quantidades ela se espalha por regiões cerebrais que fazem parte do inconsciente humano, ou seja, permite ao indivíduo que, sob o seu efeito, faça uma “viagem” ao seu inconsciente, que amplie o conhecimento de si mesmo, que traga este conhecimento para o lado consciente, despertando faculdades que, muitas vezes, nem sabia que possuía.

            Mas existe uma pré-condição para que a DMT possa penetrar na corrente sanguínea por via oral, o que não acontece num chá que contenha somente DMT, porque no próprio estômago é produzido enzima MAO, que metaboliza a serotonina e também sua molécula gêmea. Para que o DMT não seja metabolizado diretamente no estômago e consiga penetrar na corrente sanguínea, há necessidade de que a produção de MAO seja suspensa temporariamente, efeito este que é obtido pela presença no chá dos alcaloides HAMALA, contidos no cipó jágube. Em outras palavras é o cipó que abre o caminho para que a DMT da folha entre na corrente sanguínea pela via oral.

            Também os Alcaloides HAMALA tem um efeito psicoativo devido a inibição, desta vez parcial, do funcionamento do sistema de receptação de serotonina contido no interior do cérebro humano.

LEGALIDADE DA AYAHUASCA

         

            Após 18 anos de estudos, o Conselho Nacional de políticas sobre drogas do brasil retirou em 23 de novembro de 2006 a Ayahuasca que já avia sido excluída desta lista em caráter provisório desde setembro de 1987, em 26 de janeiro de 2010, o governo brasileiro dispôs a regulamentação de seu uso para fins religiosos.

            A Absolvição de todas substâncias contidas no santo daime pelo organismo humano é feita de forma absolutamente natural, sem trazer prejuízos à saúde.

Por que o uso do Daime?

 

            É comum encontrarmos pessoas que estão sempre a indagar; Por que usar o “Daime” dentro de um ritual religioso? Pois, para invocar o nome de Deus e praticar os seus ensinamentos não é preciso ingerir nenhuma bebida. De fato, não é preciso, mas se formos partir deste pressuposto podemos dizer também que não é preciso nenhuma religião para se praticar o bem. Ou seja, os ensinamentos daquele que temos como mestre espiritual, Jesus.

            A meu ver a religião é uma instituição criada pelo próprio homem que estabelece fronteiras onde a maioria delas se auto denominam a verdadeira e em razão deste juízo menosprezam e condenam qualquer outro seguimento que não condigam com sua verdade ou prática doutrinária. A lendo mais, tem-se visto em todas as épocas, a religião como ferramenta fundamental de um determinado regime político que quer exercer o poder. Espiritualidade não é Religião, ambas podem caminhar juntas, mas não necessariamente uma depende da outra.

 

           A partir daí nasce todo pré-julgamento que causa nas relações das pessoas os mais diversos preconceitos em prol de uma verdade que por si só não pode falar e dizer o quanto estão errados a seu respeito de cometerem tanta desunião, terror e maldades em seu silencioso nome que se encontra mudo impedido de gritar e mostrar sua real face.

           É preciso entender que o que importa não são os rótulos que se encontram na entrada das reconhecidas e ditas igrejas, mas a subjetividade do sujeito que lá congrega. A Igreja em si não se resume a um templo de pedra que só pode ostentar beleza externa, e sim, a uma vontade que anseia pela paz e harmonia em plenitude buscando vencer todas as muralhas que foram suspensas no decorrer dos séculos separando as pessoas, apegadas fervorosamente a pseuda imagem que formulamos das pessoas e das coisas.

           No que se refere aos trabalhos da barquinha, com toda sua ritualística, chamado por alguns de religião por outros de seita com uma certa intenção de demoniza-la, por entenderem erroneamente que seita seja alguma organização demoníaca que se afasta das crenças majoritárias. Deve-se lembrar que o cristianismo primitivo, nos primórdios de seu movimento, nasce como sendo uma seita seguida por alguns marginalizados dentro do vasto império romano. Só depois com sua ascensão é que se torna uma religião de estado seguida pela maioria. A doutrina mística da barquinha representa uma viagem no mar sagrado da existência, almejando um fim a ser atingido, navegando entre ondas e tempestades em busca de melhores aguas para viajar até a chegada ao porto seguro que todos almejam. Sua ritualística além de fazer uso da bebida sacramental (DAIME), está ligada a confluência de um forte sincretismo religioso, onde se encontram elementos doutrinários variados que vai desde as religiões afro-brasileiras, catolicismo popular e espiritismo Kardecista. Além de abordar aspectos culturais e a conscientização da preservação da natureza entoada e consagrada através de seus salmos. Essa flexibilidade de abraçar elementos doutrinários de vários seguimentos, proporciona uma melhor compreensão e aceitação do outro dentro de seu contexto cultural. Tendo em vista, que os fenômenos religiosos se manifestam de formas diferentes em cada contexto e povo.  Mais a busca é a mesma.

            A religião tem que perder seu caratê institucional e seguir de fato o movimento que ela mesma na sua terminologia remete, que é de ligação (religare) e não de separação. A separação religiosa é apenas a expressão de egoísmos, preconceitos e sede pelo monopólio do poder. Pois, nenhuma em sua notável limitação conseguirá abarcar a totalidade do universo e seus desígnios. E preciso renunciar a arrogância que tanto tempo a alimentou como soberana portadora de toda a verdade, excludente de qualquer outra manifestação do sagrado que vá para além das fronteiras do seu conhecer.     

            A partir desse esclarecimento inicial, antes de dizermos a importância desta bebida (Daime), é necessário ainda nos perguntar: o que é a verdade dentro de um mundo a onde todos acreditam possuí-la? Não cabe a mim aqui a ousadia de estabelecer de forma absoluta o que seja a verdade. Mas tentarei indicar um possível caminho para nos conduzirmos a ela de forma mais sensata possível, sem que para isso seja preciso negar o outro para afirmar nosso ponto de vista.

            Primeiramente é preciso saber de que verdade estamos a falar. É uma verdade teológica, ou seja, a crença em uma divindade criadora de todas as coisas que muitos acreditam estarem cumprindo a sua vontade que seria a razão ou a finalidade da existência humana. Mas qual seria a sua vontade? Essa é a grande problemática que se estabelece, porque todo homem de fé em seu sistema de pensamento interpretativo diz realiza-la, e em nome dessa vontade já se praticou na história da humanidade todos os tipos de torturas, guerras e atrocidades acometidos contra a pessoa humana por divergência de crenças e ideais de vida, mais, que são justificadas como sendo a vontade de Deus. Um tanto quanto contraditório, quando levamos em conta a figura do Jesus histórico que não cometeu um ato de maldade para com aqueles que descordavam dos seus ensinamentos.

            Para apontar um caminho a esse problema, partiremos do princípio de que, a vontade dessa força, dessa energia que faz tudo vibrar, é uma vontade que anseia e zela pela vida em sua plena exuberância. A ordem dos astros e toda configuração do sistema solar reflete a esse princípio como sustentação da vida, fornecendo os meios necessários para o seu florescimento dentro do vasto universo cósmico. Então qualquer ideal, pensamento que se oponha a esse fluxo de vida e harmonia não pode está realizando a sua vontade, mas promovendo morte e destruição. A vida é o bem maior que deve ser preservada e valorizada e em reverência a ela deve-se construir relações harmônicas, fraternas, buscando enxergar o que ela tem de melhor e o que ela aspira, para que se possa enaltece-la e conviver da melhor forma possível.

            Vida que existe como princípio vital que anima todos os corpos que possui sua essência, vegetais e animais, todos em suas especificidades e a mais complexa das criaturas é o animal homem que possui o dom da palavra, do pensamento que o faz consciente de sua própria existência. Existência esta que não se sabe o que fazer com ela, e vivem a se matar e agredir de todas as formas. Dom da palavra com a qual não se consegue dialogar e se entender e a utilizam para julgar e condenar a diversidade da vida. Independente de crenças, verdades absolutas, a vida é o bem maior.

            Em meio a propagação de tantas verdades que se apresentam como a mais verdadeira, é preciso mergulhar profundamente no oceano da própria existência e se deparar com a própria miséria que o faz cruel e cego diante a vastidão do universo. Assim entenderemos a importância da diversidade na construção de novos valores que abrace a vida como um todo, estabelecendo relações mútuas uns com outros, sem julgamento, sem condenação, sem juízos que diminua o diferente. A vida só é boa quando partilhada com sinceridade em todas as suas manifestações, respeitando o processo da consciência evolutiva que é próprio de cada um. Pois, o que importa não são as crenças as quais você já nasce submetidos a ela, você não nasce crendo, você aprende a acreditar em algo para dar sentido a sua vida, dado o grande mistério com que ela se origina. O que importa é quem somos como pessoa humana e os fluídos de energia cósmica com que contagiamos o outro que está a caminhar conosco em busca de respostas como você.

           A verdade pode estar bem mais perto do que se quer acreditar e também muito mais longe do que se pode imaginar. Perto por que? Ela pode ser encontrada na sua interioridade, conhecendo o seu próprio “Eu” e as influências externas que age sobre você, para que através deste conhecimento você possa compreender o outro ao invés de apenas nega-lo. Lembro-me aqui de uma citação bíblica onde uma mulher estava sendo apedrejada e Jesus interveio e proferiu as seguintes palavras: “Aquele que não tiver pecado que atire a primeira pedra”. Todos voltaram para si mesmo, para sua interioridade e viram que não estavam em condição de julgar e condenar quem quer que seja. Isto é o que está faltando numa sociedade onde todos se acham certos e no direito de acusar o erro dos outros. E a ansiedade é tão intensa para mostrar os delitos do outro que se torna cega para enxergar a sua própria hipocrisia. (Particularmente não gosto muito deste termo pecado como uma transgressão de preceitos religiosos quando na verdade esses preceitos não são somente de caráter espiritual, mais, sobretudo político formulados e reformulados ao longo da história, onde as pessoas carregam um pesado fardo se lamentando pelas suas culpas, criando um estado de repressão Psíquica constante, submetida sempre ao olhar do outro) prefiro entender que estamos em um fluxo constante de transformação e o erro é simplesmente um dos elementos necessários para uma mudança de consciência, é preciso encara-lo com naturalidade como necessário ao aprendizado humano, na busca de uma melhor elevação de consciência. Se percebermos isso sairemos daquele ciclo vicioso onde tudo é pecado e sempre estamos vendo e apontando o pecado do outro a partir da nossa própria ótica. “Pecado porque assim foi estabelecido por um determinado corpo doutrinário”, e você se martiriza por estar violando-o.

Aprenda, cresça, evolua através de experiências e reflexões suas que podem ser amargas ou não, isso só você vai saber, então poderá tirar suas próprias conclusões sobre o que lhe é benéfico ou maléfico. Vida é experimentação e avaliação.  As palavras ditas; “aquele que não tiver pecado que atire a primeira pedra”, são palavras que pressupõe uma auto reflexão sobre a própria vida e não necessariamente um código moral onde aqueles que não o seguem estão pecando, pelo contrário ao dar assistência a mulher apedrejada, Jesus está indo de encontro aos princípios ou as leis religiosas que regiam aquele povo, assim como por exemplo falar com a mulher samaritana, prestar serviços no sábado, entre outros episódios que ocorrera.    

              Longe por que? A todo momento você está sendo convidado a se retirar de si mesmo, e se torna cada vez mais difícil seu retorno. Em um mundo movido pelo consumismo compulsivo, pela aparência que só produz reflexo daquilo que não se é, pelo fazer de conta, tudo virou objeto de compra do sexo a Deus. E muitas vezes você se encontra anestesiado em volto a tantas angustias e inquietações causado pela a instabilidade de não saber quem é e nem do que precisa, um eterno desconhecido de si mesmo.

              Peço-lhe permissão para citar um episódio que me recordo de Jean de léry, cronista francês que esteve na américa no século XVI. Ele relata uma conversa entre ele e um índio tupinambá, que estranhava o fato de os europeus virem de tão longe buscar madeira:

              - Porque vindes vós, franceses e portugueses, buscar lenha de tão longe para vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra?

              Ele respondeu que tinham muita, mas não daquela qualidade, e que não a queimavam, como ele o suponha, mas dela extraiam tinta para tingir, assim como eles faziam com os seus cordões de algodão e suas plumas.

             Retrucou o velho imediatamente;

             - E por ventura precisa de muito?

             Sim, respondeu-lhe, pois no nosso país existem negociantes que possuem mais panos, facas, tesouras, espelhos e outras mercadorias do que podeis imaginar. E um só deles compra todo pau-brasil com que muitos navios voltam carregados.

             - Ah! Retrucou o selvagem, tu me contas maravilhas, mas esse homem tão rico de que falas não morre?

              Sim, disse ele morre como os outros.

              E perguntou-lhe o selvagem de novo;

            - E quando morrem para quem fica o que deixam?

              Para os seus filhos, se os tem, respondeu Jean de Léry, na falta destes, para os irmãos ou parentes mais próximos.

            - Na verdade, continuou o velho, que como vereis, não era nenhum tolo, agora vejo que vós outros franceses sois grandes loucos, pois atravessais o mar e sofreis grandes incômodos, como dizeis quando aqui chegais, e trabalhais tanto para amontoar riquezas para vossos filhos ou para aqueles que vos sobrevivem! Não será a terra que vos nutriu suficiente para alimentá-los também? Temos pais, mães e filhos a quem amamos; mas estamos certos de que depois de nossa morte a terra que nos nutria também os nutrirá; por isso descansamos sem maiores cuidados.

            Acho interessante esse relato para mostrar a diferença do tipo de vida dos nativos, aquilo que consideram o mais importante, com o tipo de vida dos europeus e todas as consequências sofridas em razão dos seus ideais que colocava sempre o ter na frente do ser como fundamental, promovendo uma constante exteriorização do ser que passou a identifica-se com o objeto esquecendo a sua essência primitiva. Esta é a realidade que atribui uma extrema importância ao objeto, comprometendo assim o ser na sua mais pura existência. Pois, a atenção está voltada para aquilo que se produz externamente ao indivíduo e que ficam expostos nas vitrines da ilusão. Onde os mecanismos criados para manipulação de massa se encarregam de fixar sua atenção a eles, e você passa de construtor a construído. Dizendo que é o que você precisa, mas você já parou para pensar que quanto mais o tempo passa, mais se precisa das coisas e nunca se está saciado com o que possui? Só você pode saber o que você precisa, Busque seu alto conhecimento. Diz o poeta: torna-te o que és.

           Bem, agora podemos falar da importância desta bebida dentro deste processo. O Daime ou Ayahuasca é uma bebida de origem nativa retirada do seio da floresta, assim como vários medicamentos que se encontram nas indústrias farmacêuticas provenientes de ervas medicinais. Os nativos já possuíam esse saber muito antes do homem branco aqui chegar, dizimar o seu povo e impor sua cultura sobre eles, costumes, crenças, visão de verdade. O “DAIME” conduz a este árduo retorno da cidade agitada à tranquilidade da floresta e seus encantos, aproximando-nos desses povos e de suas riquezas naturais, e diante alguns minutos pode-se refletir sobre a própria vida no mais absoluto silêncio que lhe conecta com você mesmo e com a natureza a sua volta.

           A sabedoria nativa é muito rica porque é uma sabedoria de preservação da vida conectando-a com a natureza de forma harmônica a sua energia. O Daime bebida nativa utilizado pelas mais variadas tribos, como sendo uma forma de lhes conectar com a natureza, com seus ancestrais e deuses, é portador de grande poder de concentração, fornece o aumento da sensibilidade, das percepções sensoriais, estabelecendo um diálogo franco e consciente com você mesmo. Em momentos de tanta inquietude está faltando este diálogo de tamanha importância em um tempo de constante correria, de verdades medidas, lógicas, matemáticas e prontas, fica-se ofuscado e não se consegue enxergar a complexidade subjetiva que envolve o próprio ser que vai além das percepções materiais.

          O Daime (bebida sagrada) um composto de cipó e folha é utilizada como um veículo cuja função é aproximar o homem da espiritualidade, mostrando-lhe numa outra dimensão a sabedoria do silêncio e a serenidade da harmonia tão eficaz na relação humana. Esta harmonia que pode se manifestar na vida humana, só é possível através de um constante exercício do pensamento em busca de um equilíbrio com o todo.

          O Daime não condena ninguém. Tudo é uma questão de consciência e analise da própria vida, de princípios e valores que foram internalizados por você, os conflitos ou atribulações vivenciadas no uso do daime em boa parte se dá pelas oscilações do que você deseja e do que você deve fazer mediante uma doutrina estabelecida ou ainda daquilo que você acha certo em contraponto com aquilo que foi normatizado como certo, então tem todo um peso externo que age sobre você e consequentemente isso pode ter relação no seu trabalho com esta substância, aí a necessidade de você encontrar o seu “EU SUPERIOR” e romper com todas as limitações negativas que venham de encontro a você, feito isso, você terá encontrado seu “Grande Mestre” que o guiará atribuindo-lhe novas lentes com a qual você enxergará o mundo de outras formas, neste momento você verá o daime não como condenador ou julgador, mas sim, como um grande aliado que o ajudará a entender a própria vida.

          O Daime dentro da ritualística religiosa, com todos os valores doutrinários que envolvem uma determinada crença que possa nortear ou direcionar o seu efeito na sua subjetividade, ainda preserva uma porcentagem pura que só pode ser alcançada por você mesmo, mediante a coragem para ingeri-lo, a curiosidade para explora-lo e expansão de consciência para entende-lo.

          A proposta aqui não é fornecer de forma universal o que causa a utilização desta bebida na singularidade de cada indivíduo, pois cada indivíduo é único e possui múltiplos motivos que o levaram a se tornar o que é no exato momento presente, ele possui toda uma história de vida e o daime trabalha a partir dessas referências. Agora o que é comum a todos é o efeito substancial que ele proporciona. No entanto, as imagens, as intuições e a experiência é sempre um reflexo de sua própria interioridade que pode divergir de pessoa para pessoa ou não, depende da frequência ou do grau de espiritualidade que ambos se encontram. E a grande sacada é essa, você compreender as manifestações que estão sendo projetadas na sua tela mental a partir da sua subjetivação, e assim mudar o que precisa ser mudado levando em consideração os reflexos que se apresentam sobre quem você é.

          Quem você é? Já se perguntou? Já encontrou uma resposta que defina de fato esta pergunta, sem devagar somente em fórmulas prontas e acabadas, mas mostrando sua real construção ou sua constante transformação? Essa pergunta pode ser entendida tanto em sentido moral como existencial. Porque hoje no cenário das sociedades modernas, onde se tem que assumir vários papeis, se apropriar de várias faces, normalmente a maior parte do tempo se está contracenando como em uma grande peça teatral, sempre fantasiados presos a face da personagem, onde o objetivo é atender as expectativas do público agindo de acordo com as formas que foram impostas para protagonizar. Essa atuação sem reflexão lhe torna uma pessoa superficial subordinada aquilo que os outros querem ou esperam que você seja. Fostes construído a partir do outro, por isso preocupas-te tanto com o que o outro acha, é preciso reconstruir-se de forma autentica e encontrar por si mesmo o grande sentido da vida.

           O Daime chamado pelos nativos de “Vinho das almas”, é uma bebida que proporciona o recolhimento do indivíduo a ele mesmo. Fazendo-os entender que a principal luta que estão a travar em sua vida cotidiana, não é ir para além das fronteiras da sua subjetividade que é o ponto de partida para uma transformação ou realização interior. O exterior se constrói a partir de uma extensão do próprio indivíduo. O mundo tal e qual como existi hoje, fomos nós que o criamos. É apenas o reflexo da sua interioridade.

           Por mais que eu busca-se palavras para dizer a você experiências vividas e reflexões feitas sobre esta bebida, ainda seria insuficiente para alcançar a compreensão de todos sobre suas benéficas. Pois são muitos os preconceitos que nos foram internalizados desde criança no decorrer de nossa formação.

É preciso retirar as roupagens que foram impostas tornando-nos pessoas excludentes e superficiais, e abrirmos a mente para novos horizontes, como crianças que estão a explorar o mundo e a vida em um contato imanente com ela, para que novos ares venham nos visitar e possamos assim abraçar a vida com intensidade buscando compreendê-la por meio não só de um ponto de vista, por que isto é limita-la a muito pouco levando em consideração toda grandeza e complexidade com que ela se apresenta.  E em razão desta complexidade não se pode obter um único ponto de vista e subordinar todos os demais a ele, como sendo a única verdade. Seriamos tolos e não sábios.

          Sendo assim, não cabe aqui a tentativa de convence-lo acreditar em tudo que foi dito sobre esta bebida, acreditar não é o mais importante, mais vivenciar através de experiências concretas. Somente através de uma experiência pessoal sua com esta bebida você poderá tirar suas próprias conclusões.

          Mas, tem aqueles que dizem que é uma droga e por isso não querem nenhum envolvimento. Eu não vou dizer que sim ou que não, pelo sentido pejorativa com que é atribuído. O que posso dizer é que devemos medir as coisas por seus benefícios e malefícios, e o daime só tem trazido benefícios para os que dele fazem uso com responsabilidade, tanto físico como espiritual. Ah! Mais, a sociedade descrimina porque é uma droga. A sociedade é tão esquecida que não consegue perceber suas próprias contradições, nossa história foi construída com o derramamento do sangue de inocentes, tanto nativos como africanos que foram escravizados e tiveram seus costumes e crenças vulgarizados para atender os ideais de vida daqueles que se diziam superiores, que estabeleceram valores para padronizar todo povo, manifestando-se sobre as mais sutis torturas físicas, psicológicas e desigualdades em todos os sentidos. Mas, se formos conceituar o que seja “Droga”, até o comprimido pra dor de cabeça que você toma não sai imune, sem contar a cervejinha do final de semana e do cafezinho de todas as manhãs. Essa questão é muito mais abrangente do que suponhamos.

         O uso de drogas “termo” designado a tais substâncias químicas, segundo pesquisas é uma prática desde tempos pré-históricos. Há provas arqueológicas do uso de substâncias psicoativas 10 mil anos atrás, e evidência histórica de uso cultural desde 5 mil anos atrás. Embora o uso pareça ter sido mais frequentemente medicinal, sugeriu-se que o desejo de alterar a consciência é tão primitivo quanto o ímpeto de saciar a sede, a fome ou o desejo sexual. Outros acreditam que a pressão da vida moderna é umas das razões pelas quais as pessoas usam drogas psicoativas no cotidiano. Contudo, o mesmo desejo da criança de rodar, balançar ou escorregar indicam que o ímpeto de alterar a percepção é universal. Durante o século XX, muitos países inicialmente responderam ao uso recreacional das drogas banindo o seu uso e considerando-o criminoso, armazenamento ou venda.

         A história das drogas é a história da humanidade. Fizeram parte essencial da sua cultura, dos seus rituais religiosos, das suas relações humanas, evoluindo ao mesmo tempo que os homens e as mulheres que as consomem.

         A amplitude do termo droga reflete esta longa evolução, fazendo referência a um elevado número de substâncias com distintos efeitos sobre a percepção, o pensamento, o estado de ânimo ou as emoções, com diferente capacidade para produzir dependência e com significados diferentes para aqueles que as consome.

        Uma droga psicoativa, substância psicotrópica é uma substância química que age principalmente no sistema nervoso central, onde altera a função cerebral e temporariamente muda a percepção, o humor, o comportamento e a consciência. Essa alteração pode ser proporcionada para fins: recreacionais (alteração proposital da consciência) religiosos (uso de eteogenio) científicos (visando a compreensão do funcionamento da mente) ou médico farmacológicos (como medicação). Alternativamente, tal efeito na mente pode não ser objetivo do consumo da substância psicotrópica, mas um efeito adverso do mesmo.

         Tais alterações subjetivas da consciência e do humor são fonte de prazer (Por exemplo; a euforia) ou servem para criar uma melhora nos sentidos e estados já experimentados naturalmente, por exemplo; o aumento da concentração, ou uma mudança na perspectiva mental, podendo aumentar também a criatividade; por isso, tantos artistas e intelectuais são defensores do consumo dessas substâncias.

         Certos psicoativos, principalmente os alucinógenos, têm sido usado para fins religiosos desde tempos pré-históricos. Os nativos norte-americanos tem usado o peiote, que contem mescalina, em cerimônias religiosas há 5.700 anos. Os índios da Amazônia usam, para fins religiosos, a combinação de cipó- mariri e chacrona para a produção de ayahuasca há mais de 4.000 anos. O cogumelo amanita que produz muscinol, era usado com propósitos rituais por toda a Europa pré-histórica. Vários outros alucinógenos como o estramônio e os cogumelos psicodélicos, são parte de cerimonias religiosas há séculos.

         O uso de eteógeneos para fins religiosos ressurgiu no ocidente durante os movimentos de contracultura dos anos 1960 e 1970. Sob a liderança do “americano Timothy Leary”, novos movimentos religiosos começaram a usar o LSD e outros alucinógenos como formas de sacramento, no brasil o uso da ayahuasca é permitido por lei para os praticantes das seitas que usam para fins rituais, como as do Santo Daime e União do Vegetal.    

           Para citar um exemplo de intolerância ao diferente, lembro-me aqui de que a jurema também é uma planta psicoativa que no Nordeste já foi suporte de cultos semelhantes ao do santo daime no acre. Tais cultos juremeiros pereceram por causa da perseguição pela prepotência policial e pelo coronelismo nordestino, culminando com o banho de sangue dos seus a débitos na comunidade da pedra do reino, na fronteira entre Pernambuco e paraíba. Infelizmente essa é uma realidade cruel que extermina a vida para defender padrões que nós mesmos criamos como algo indissolúvel.

           Para concluir essas reflexões que me propus a fazer sem maiores pretensões de ser aceita por você, quero dizer que este texto que escrevi parte de uma experiência pessoal minha com esta bebida, procurando assim entende-la não só de forma mística, mas também o contexto ao qual ela está inserida. Por isso é preciso obter uma mente lucida com a realidade, liberta de pré-conceitos, para que se possa visualizar com os olhos do pensamento a construção dos alicerces que se fundamentam as tradições, inclusive a nossa, seus juízos de valores e suas contradições.     

© 2023 por Centro Espírita Daniel Pereira de Matos

 

bottom of page